lendo o último lançamento da Martha Medeiros, Feliz por Nada, me deparei com essa crônica que ela redigiu em 27/09/09, há quase 2 anos!
O Deus das Pequenas Coisas
"Me sinto uma fracassada".
Não é uma frase fácil de se ouvir de alguém.
Soa até mesmo incomprensível quando se trata de uma mulher linda, rica, que mora num sobrado deslumbrante, passa uma parte do ano no Brasil e a outra em Nova York, é casada com um homem igualmente lindo e apaixonado por ela, tem dois filhos que são uns doces, é uma profissional bem-sucedida e já deu a volta ao mundo uma meia dúzia de vezes.
O que é que te falta?
"Um projeto de vida", responde ela.
Existe uma insaciedade preocupante nessa mulher e em diversas outras mulheres e homens que conquistaram o que tanto se deseja,e que ainda assim não conseguem preencher o seu vazio.
Um projeto de vida, o que vem a ser?
No caso de quem tem tudo, pode ser escrever um livro, adotar uma criança, engajar-se numa causa social, abrir um negócio próprio, enfim, algo grandioso quando já se tem tudo de grande: amor, saúde, dinheiro e realização profissional.
Mas creio que esse projeto de vida que falta a tantas pessoas consiste justamente no que é considerado pequeno e, por ser pequeno, novo para quem está acostumado a se deslumbrar com o que se convencionou chamar de "menor".
Onde é que se encontra o sublime?
Perto.
Ao se regar as plantas no jardim.
Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo.
Lendo um livro.
Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza.
Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato.
Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga.
Acendendo uma vela ou um incenso.
Saboreando um beijo.
Encantando-se com o que é belo.
Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva.
Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração.
Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o "ser feliz" pelo "parecer feliz", nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa.
Sei que tudo isso parece fácil e que não é.
Algumas pessoas não conseguem desenvolver essa satisfação interna que faz com que nos sintamos vitoriosos simplesmente por estarmos em paz com a vida, mesmo possuindo problemas, mesmo tendo questões sérias a resolver no dia-a-dia.
É inevitável que se pense que a saída está na religião, mas dedicar-se a uma doutrina, seja qual for, pode ser apenas fuga e desenvolver alienação.
Mais do que rezar para um Deus profético e soberano, acredito que o que nos sustenta passa sim, por uma espiritualidade, porém menos dogmática.
É o cultivo de um espírito de gratidão, sem penitências, culpas e outras tranqueiras.
Gratidão por estarmos aqui e por termos uma alma capaz de detectar o sublime no essencial, fazendo com que todo o supérfluo, que não é errado desejar e obter, torne-se apenas uma consequência agradável desse nosso olhar íntimo e amoroso a tudo o que nos cerca".
Martha Medeiros, 27 de setembro de 2009
Do livro Feliz por Nada
"Me sinto uma fracassada".
Não é uma frase fácil de se ouvir de alguém.
Soa até mesmo incomprensível quando se trata de uma mulher linda, rica, que mora num sobrado deslumbrante, passa uma parte do ano no Brasil e a outra em Nova York, é casada com um homem igualmente lindo e apaixonado por ela, tem dois filhos que são uns doces, é uma profissional bem-sucedida e já deu a volta ao mundo uma meia dúzia de vezes.
O que é que te falta?
"Um projeto de vida", responde ela.
Existe uma insaciedade preocupante nessa mulher e em diversas outras mulheres e homens que conquistaram o que tanto se deseja,e que ainda assim não conseguem preencher o seu vazio.
Um projeto de vida, o que vem a ser?
No caso de quem tem tudo, pode ser escrever um livro, adotar uma criança, engajar-se numa causa social, abrir um negócio próprio, enfim, algo grandioso quando já se tem tudo de grande: amor, saúde, dinheiro e realização profissional.
Mas creio que esse projeto de vida que falta a tantas pessoas consiste justamente no que é considerado pequeno e, por ser pequeno, novo para quem está acostumado a se deslumbrar com o que se convencionou chamar de "menor".
Onde é que se encontra o sublime?
Perto.
Ao se regar as plantas no jardim.
Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo.
Lendo um livro.
Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza.
Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato.
Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga.
Acendendo uma vela ou um incenso.
Saboreando um beijo.
Encantando-se com o que é belo.
Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva.
Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração.
Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o "ser feliz" pelo "parecer feliz", nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa.
Sei que tudo isso parece fácil e que não é.
Algumas pessoas não conseguem desenvolver essa satisfação interna que faz com que nos sintamos vitoriosos simplesmente por estarmos em paz com a vida, mesmo possuindo problemas, mesmo tendo questões sérias a resolver no dia-a-dia.
É inevitável que se pense que a saída está na religião, mas dedicar-se a uma doutrina, seja qual for, pode ser apenas fuga e desenvolver alienação.
Mais do que rezar para um Deus profético e soberano, acredito que o que nos sustenta passa sim, por uma espiritualidade, porém menos dogmática.
É o cultivo de um espírito de gratidão, sem penitências, culpas e outras tranqueiras.
Gratidão por estarmos aqui e por termos uma alma capaz de detectar o sublime no essencial, fazendo com que todo o supérfluo, que não é errado desejar e obter, torne-se apenas uma consequência agradável desse nosso olhar íntimo e amoroso a tudo o que nos cerca".
Martha Medeiros, 27 de setembro de 2009
Do livro Feliz por Nada
Bonito e cheio de sabedoria. Como tudo o que ela escreve.
ResponderExcluirBj
Nunca li livros da Martha Medeiros, apenas alguns textos que encontro aqui na net e nesse pouco que li, ela se mostrou ser bem sábia, quanto a esse caso, não saberia dizer se ela está certa, ou não, talvez seja uma bom começo, mas o que eu percebo independente da fase, é que estamos muito infelizes.
ResponderExcluirBeijo
Que lindo!
ResponderExcluirVindo De Marta Medeiros.
Sempre estamos em busca de novos desafios.
Uma bela semana. Edna,
Ela escreve com alma, sentimento... e eu ADORO!
ResponderExcluirDá muito que pensar este texto.
Uma boa semana
Beijos
Fiquei com vontade de a conhecer melhor. Vou procurar os seus livros.
ResponderExcluirLindo o post e eu adoro a Martha,rsrsrsrsrs
ResponderExcluirBj
Não resta dúvida de que:"...perto de onde se encontra o sublime, está o espírito de gratidão;esse que torna a alma capaz de detectar o sublime no essencial."
ResponderExcluirTomando a liberdade de parafrasear a maravilhosa Martha,resumo o parágrafo que trago escrito na memória de minh'alma.
Excelente escolha, Sandra.
Muitos bjinhos,
Calu
Martha como sempre maravilhosa.
ResponderExcluirMinha amiga, espero que esteja bem, anda sumida!
ResponderExcluir"Detectar o sublime no essencial" adorei essa frase, são nas pequeninas coisas que encontramos os maiores encantos.
bjokitas :)
Oi Sandra! Ontem fui numa city maior que a minha, corri na livraria, atrás deste livro da Martha e não encontrei... Já li vários artigos soltos pela internet e estou adorando, vou acabar comprando pela net...
ResponderExcluirUm feriado relax p/ vc!
Beijooooooooooooooo