Recebi mais uma contribuição do meu amigo Sérgio Thadeu, por email, que compartilho com vocês:
O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA,
CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE
"Fingi ser gari por 1 mês e vivi como um ser invisível"
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'.
Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro.
Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.
Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou um mês como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo.
Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis; sem nome'.
Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:
'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano.
'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme.
Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.
No primeiro dia de trabalho paramos pro café.
Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto.
Só que não tinha caneca.
Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles.
Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço.
Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta.
E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro.
Eu nunca apreciei o sabor do café.
Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins.
Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo.
No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?'
E eu bebi.
Imediatamente a ansiedade parece que evaporou.
Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.
O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central.
Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida.
Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu.
Eu tive uma sensação muito ruim.
O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angústia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado.
Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de um mês trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis.
Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro.
É muito triste, porque, a partir do instante em que você está
inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais.
Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa.
Esses homens hoje são meus amigos.
Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias.
Mudei.
Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe.
Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome.
São tratados como se fossem uma 'COISA'.
Ser IGNORADO
é uma das piores sensações
que existem na vida!
Antonio Fernando Araujo pelo facebook comentou: C/ o amor se contorna isso e Ernesto Cardenal dá a dica: "Ao me desprezar, v. perde bem mais que eu: pois a mim, outras amarão mais que você, mas a você, ninguém amará mais do que eu." Portanto..., amor.
ResponderExcluirCRÔNICA QUE NOS LEVA A DESPRENDER-SE DE MINÚCIAS QUE NOS APRISIONA SEM NOS SENTIRMOS...
ResponderExcluirMUITO BOM!ESSE TEXTO ESTOU ROUBANDO E ENVIANDO PARA PESSOAS QUE ESTÃO PRECISANDO DE SE TOCAR PARA SOBREVIVER...
jÁ SE RECUPEROU DAS BODAS(25anos)É MUITOS DIAS VIVIDOS,RSRSRSRSRSRS...
BJS MINHA LINDA AMIGA!
Sim, já tinha lido esse texto, que, inclusive, postei no meu blog. Muito bonito. Abs.
ResponderExcluirSandra! Depoimento/tese sensacional! No âmbito de ver o lado negro da atual sociedade e despertar o lado humanista que o homem está se esquecendo...
ResponderExcluirSe este gari passasse sempre em frente de casa, iria receber café, água, suco...Sempre sirvo o varredores que passam aqui, morar em cidade pequena a gente ainda consegue criar esse vínculo de afeto e respeito com as pessoas. Os caçambeiros da prefeitura todo fim de ano faço uma cesta com tudo que tem direito p/ cada um. Quando esqueço de colocar o lixo, eles param e me lembram... Trocar gentileza e atenção não custa nada!
Posso copiar o depoimento? Vou passar p/ um amigo antropólogo.
Um ótimo fds p/ vc.
Beijos e ternurassssssss
Que história de vida,
ResponderExcluirInfelizmente, a experiência dele só demostrou uma amarga realidade,
Nossa Sandra que postagem, ainda não conhecia muito bom e que história!
ResponderExcluirVenho ler mais de vc e agradecer seu carinho!
Que vc tenha um ótimo dia!
Beijo- te espero no Alma!
Já vi esta matéria.Bom revê-la aqui de novo.
ResponderExcluirSó nos notam pela aparência exterior.
Um belo dia.
Te sigo. Abraços Edna.
Sandra
ResponderExcluirViver no anonimato sem desejar deve ser uma infelicidade muito grande. Já conhecia essa história. Tenho pavor de abandono, de rejeição. Ótimo texto. Bjkas!
Recebi da minha grande amiga de muitas jornadas Núbia Correia pelo facebook:"
ResponderExcluirSandrinha, tentei postar no blog, mas não estou conseguindo. Segue meu comentário:É Sandrinha, para refletirmos...
Sabemos o nome da pessoa que serve o nosso cafezinho no trabalho? Cumprimentamos e agradecemos por nos servir a cada porteiro ...e zelador de nosso prédio? E o entregador de jornal, já lhe dissemos o quanto o trabalho dele nos alegra e traz um bom começo de dia?
E nós, gostamos de entrar no elevador e nosso vizinho nem sequer dar bom dia? Gostamos quando nossos filhos acordam e passam direto sem dar aquele beijinho mágico para início de dia?
Temos a oportunidade de fazer diferente a cada momento: um gesto de carinho, um bom dia, um agradecimento... são importantes para TODOS nós, independentemente do nível social
Bjs amiga e obrigada pelo momento de reflexão"
Bom post Sandra!!
ResponderExcluirAdorei e dá muito em que pensar!
Eu acredito que qualquer pessoa que se cruza no nosso caminho... não é por acaso, então deve ser tratado pelo menos com educação nem que seja com um apenas: Bom dia!
Obrigada Sandra por este momento de refleção que é necessário
Beijos
Um dia muito feliz
Uma experiência fantástica!
ResponderExcluir... a indiferença mata!
Excelente post, muito comovente. Essa sensação é mesmo horrível. Me senti assim invisível qdo cheguei no sul. Cumprimentava as pessoas e ninguem me respondia!! Depois de um tempo começaram a responder mas eu já estava deprimida por ser recebida com tanta frieza. Hoje, entendo que o povo daqui é bem desconfiado e não é de dar conversa de primeira, como estava acostumada em Sao Paulo, cheia de nordestinos que dão bom dia até pros postes. Triste constatação do amigo acima, cada um deve fazer sua parte na conservação da dignidade de todos. bjs
ResponderExcluirInteressante trabalho e triste e real conclusão.
ResponderExcluirUm grande bj querida amiga
Sandra,
ResponderExcluirExcelente tema pra reflexão. Deixa eu te contar uma historinha. Há dois dias fui ao mercado numa pracinha aqui perto. Havia um gari limpando a rua. Ele me deu boa tarde com um sorriso lindo, eu correspondi e ele emendou: "tem tanto pombo morto nesta praça, eles ficam distraídos e os carros atropelam". Eu sorri e voltei pensando: como é bom encontrar pessoas que vc não conhece com disponibilidade para dizer bom dia, boa tarde e passar alguma mensagem pra vc. Achei bonita a tese e forma de falar dos pombos: "eles ficam distraídos...". Aquele homem para mim representou uma pessoa totalmente do bem. Poderia ter falado mal dos motoristas, não... não falou mal de ninguém e tom de voz era de pena pela distraçao dos pombos!
As pessoas que não vivem de aparências, mas são o que são, são tão mais bonitas!
Girassóis pra vc.
Beijos
Sandra,
ResponderExcluireu já conhecia essa realidade,pois trabalhando como educadora tive oportunidade de levantar e debater questões como essa,a da invisibilidade ocupacional.Um dos trabalhos promovidos e realizados nas escolas municipais de Niterói é a da valorização dos funcionários da escola e do seu entorno_ entregadores, garis, pedreiros, etc.
È de suma importância essa declaração.Há que se mudar a visão colonial-burguesa que ainda impera me nosso país.
Parabéns pela escolha do post!
Bjkas,
Calu
Sandra e leitores do blog, boa noite.
ResponderExcluirEu li e pensei : ótima mesnagem para um sábado, dia de Saturno, o limitador do Universo.
beijocas
Oi Sandra,
ResponderExcluirbelissma postagem, uma triste realidade do nosso mundo.. !
beijos carinhosos
Mariangela
É como dizem Sandra querida, o pior castigo é ser ignorado!
ResponderExcluirAdorei o post, para se refletir e pensar, sabe e na maioria das vezes essas são as melhores pessoas!!!
bjokitas com master carinho ;)
Olá Sandra,
ResponderExcluirJá conhecia o texto, mas sempre é bom reler, pois traz uma grande lição.
Neste mundo a aparência ainda é tudo, é pelo exterior que nos respeitam e consideram, infelizmente. Mas ainda é tempo de mudar.
Beijo e um feliz final de domingo.
Uma bela experiência, para reflexão e ação. Cumprimentar, conversar, olhar, sorrir. Faz bem. As vezes as pessoas esquecem disso. Falta amor.
ResponderExcluirVim agradecer sua visita e elogio ao vestido! Gostei de seu blog! beijos, Ro
Olá Sandra,
ResponderExcluirÉ muito real, desumano e verdadeiro este texto.
Há muito aprendi a cumprimentar a todos os trabalhadores que encontro pelo caminho, isto me faz sentir menos culpa pelo menos favorecido!
Alguns respondem outros ignoram, mas não me importo, continuo dando Bom dia!!!!!
Excelente seu blog!
Obrigada pela visita, volte sempre!
Bjs
Eliana
A Super amiga e xará Sandra Regina Rocha, me enviou pelo facebook a seguinte mensagem: "Aqui em Goiânia os garis são bem tratados. Não por todas as pessoas. Vi na tv uma delas falando que o que ganham de comida! Por dia 20 litros de refrigerante.. , pão de queijo, salgadinhos, café, almoço..estão fazendo aquela dieta e exercícios do Fantástico, Medida Certa."
ResponderExcluirEu chorei lendo esse depoimento do psicólogo.
ResponderExcluirMe senti pequena demais...invisível tb, não pelo meu status profissional, mas pela minha conduta omissa.
Bjo
A mensagem nos faz refletir.... E quando vivemos isso com pessoas trabalham diretamente conosco, superiores diretos.. Eu vivi isso em uma empresa que trabalhei anteriormente. Grande parte da diretoria, incluindo o presidente eram extremamente arrogantes, capazes de ignorar um "bom dia" de um funcionario e virar a cara. O que me fazia pensar, o que eu estou fazendo aqui? Trabalhando para essas pessoas tão pequenas... Eu que sempre acreditei que ninguém é diretor ou gerente, ele "está" gerente, "está" diretor. E que os papeis estão em constante movimento.
ResponderExcluirO que me faz agradecer a Deus todos os dias por ter me colocado na empresa onde estou hoje e ter o prazer de conhecer pessoas como a Sandra.
Obrigada.